Post by Sergio on Jun 10, 2004 9:56:59 GMT -5
MÉDIO NÃO ESCONDE SENTIMENTOS
Deco: «Portugal deu-me tudo» <br>
Foi o "caso" que marcou o início da "era" Scolari. Mas, garante, está "morto e enterrado". A Selecção é um desejo, tal como sair do FC Porto
Miguel Barreira
Deco quer outros desafios
RECORD – Pouco mais de um ano depois da sua estreia pela Selecção Nacional, como se sente? Está devidamente integrado no grupo?
DECO – Desde o primeiro momento, o tratamento que recebi de todos, dos meus colegas, por parte de todos os elementos da Federação, foi excelente. Nunca tive nada que reclamar ou algo que possa dizer que correu mal. Foi fantástico desde o primeiro momento.
Record – Mas a sua entrada ficou marcada por alguma polémica, pelo facto de ser naturalizado. Houve jogadores, como o Figo e o Rui Costa, que se posicionaram, não contra si mas contra o princípio? Essa situação está ultrapassada? Conversaram sobre o assunto?
Deco – Primeiro, acho que cada um tem a sua opinião e todas são respeitáveis. Segundo, sinceramente, acho que as naturalizações, feitas apenas com o intuito de jogar por uma selecção, não sou nem nunca fui a favor. E, por isso, quero deixar bem claro que comigo não foi essa a ideia, nunca seria. Como sabe, já estava em Portugal há seis anos e, nessa situação, qualquer brasileiro tem direito a pedir a naturalização. Isso era uma coisa que aconteceria comigo, jogando ou não pela Selecção, como sucedeu com o Jardel.
Record – Então a sua naturalização nada teve a ver com a Selecção?
Deco – Não. O que me levou a jogar pela Selecção foram outras razões que não têm nada a ver com a naturalização, uma coisa que era boa para mim, não apenas a nível profissional mas a todos os níveis, familiar, por exemplo, para o futuro dos meus filhos caso eles queiram estudar noutro país da Europa. A naturalização era uma coisa a que eu tinha direito e que iria fazer de qualquer maneira, independentemente da Selecção.
Record – Mas apressou a sua naturalização? Foi a FPF que tratou do processo ou o FC Porto?
Deco – Talvez? Não sei quem começou a tratar do processo, nem sei quem apressou. Algumas pessoas da Federação falaram comigo sobre a hipótese de representar a Selecção. Aliás, já tinham falado, por alto, uns dois anos antes e eu na altura disse não, precisamente por não ter anos suficientes de vida em Portugal e não era naturalizado. Mas quando souberam que o processo tinha dado entrado, falaram novamente comigo e ainda fiquei na dúvida.
Record – Porquê? Ainda tinha esperanças de jogar pelo Brasil?
Deco – Não, nada disso! O processo de naturalização já estava a correr. Mas confesso que me é difícil explicar aos outros o que sinto por Portugal. O Brasil foi o país onde nasci, onde tenho as minhas raízes, a minha família chegada. Mas Portugal deu-me tudo, na minha carreira. Hoje posso dizer quem eu sou, nomear as coisas que consegui, por ter vindo para este país. Por isso, sinceramente, se algum dia tiver de sair de Portugal vai ser muito difícil para mim, principalmente agora que já me adaptei totalmente ao Porto. A minha vida pessoal foi feita aqui, os meus filhos nasceram aqui. Tenho uma ligação muito forte com Portugal. Por isso, quando as pessoas, mesmo na rua, me incentivaram a jogar pela Selecção, pensei, porque não?! Jogar pela Selecção foi mesmo uma opção, enquanto a naturalização era uma coisa que tinha mesmo de fazer independentemente do futebol.
Record – E optou por jogar por Portugal porquê? Pouco tempo antes ainda dizia sonhar com a selecção do Brasil??
Deco – Não escondo ter sido um objectivo, mas quando decidi naturalizar-me deixei de lado esse sonho, antes mesmo de pensar na Selecção portuguesa.
Record – Foi a vinda de Scolari que o fez ultrapassar as resistências que ainda tinha em jogar por Portugal?
Deco – Não. Como disse, já tinha sido contactado antes. Meses antes de Luiz Felipe Scolari vir para Portugal, o Agostinho Oliveira também me falou da hipótese, perguntou se não gostaria e foi aí que comecei a pensar seriamente no assunto.
Record – Por outro lado, a vinda de Scolari poderia até ter sido nefasta para si, pois ele nunca o convocou para a selecção brasileira!? Temeu isso?
Deco – Nem pensei no assunto na altura. Mas analisando as coisas é fácil entender que ele não me tenha convocado para jogar pelo Brasil, pois quando ele entrou para o comando técnico do "escrete" a situação estava complicada, a equipa tinha uma série de maus resultados e arriscava falhar o Mundial. Ele não podia "inventar", levar muitas caras novas, principalmente pouco conhecidas dos adeptos brasileiros, como era o meu caso. Já havia cobranças demasiadas para ele arriscar em jogadores sem traquejo na selecção. Eu entendi perfeitamente a sua opção de não me convocar o que, contrariamente ao que alguns disseram, não teve a ver com o facto de ter "excesso" de qualidade, um leque mais vasto onde escolher, mas porque era necessário gerir com urgência e garantia de sucesso uma série de conflitos internos.
Record – Para lá da Selecção, consta que vai sair do FC Porto. É verdade?
Deco – Não sei. Sinceramente. Sei que há interesse de alguns clubes, mas por enquanto não há nada de concreto.
Record – Para onde gostaria de ir? Jogar em que campeonato, em que tipo de futebol? Inglês? Alemão?
Deco – Não é o futebol em si. Eu não desejo sair por sair, só para mudar. Quero outros desafios. Nunca trocaria o FC Porto pelo Atlético de Madrid? Por exemplo, o Ronaldinho fez o que fez no Barcelona, que não ganhou nada, e para o ano vai estar na lista dos melhores do Mundo. Claro que o Ronaldinho é um grande jogador, isso é indiscutível, mas ele vai estar nessa lista porque é do Barcelona. Se ele estivesse no Benfica, que ficou em segundo lugar no campeonato português, estava "morto", ninguém falava dele.
Record – Os clubes portugueses não têm "peso" internacional, é isso?
Deco – Sem dúvida que conta muito nestas coisas o "peso" do clube onde se joga. Não adianta fugir a isso. E sinto que para atingir todas as minhas ambições infelizmente não o conseguirei ficando no FC Porto. A não ser que ficasse mais quatro anos a ganhar a Liga dos Campeões? E mesmo assim, não sei.
Record – Não gostava de experimentar outro tipo de futebol? Seria um novo desafio?!
Deco – Claro que gostaria. Mas não gosto dos desafios só por serem desafios. Tenho outros desejos? No fundo, nem é isso que me motiva, jogar num outro campeonato. Porque se fosse isso já tinha saído do FC Porto. Há três anos tinha ido para o Corunha, porque houve vontade deles e o FC Porto não se importava nada, até porque na época tinha uma cláusula de rescisão. Como tive do Atlético de Madrid. Mas não eram clubes que me fascinassem.
Record – Então que motivação é essa que quer mais?
Deco – Quero um clube que me dê condições para poder ser o melhor do Mundo! Esse é o meu maior desafio, a grande motivação da minha carreira. Já conquistei vários títulos nacionais, a Taça UEFA e a Liga dos Campeões. Quem sabe – e é outro dos meus desejos – conseguirei entrar na história com a Selecção Nacional e ser campeão europeu. Colectivamente, confesso, pouco mais posso desejar, mas individualmente gostava de me afirmar.
Record – Ser o melhor jogador do Mundo? Porquê? O Deco tem valor reconhecido?
Deco – Sim, a crítica faz-me rasgados elogios. Mas não tenho aquele estatuto que o Figo tem.
Record – Então o desejo de sair do FC Porto é forte?
Deco – O desejo existe. No entanto, não estou preocupado com isso. Quem trata desses meus assuntos é o Jorge Mendes porque eu só quero pensar na Selecção.
Record – Preocupado, acredito que não esteja. Mas não está ansioso?
Deco – Ah, isso mentiria se dissesse que não! Não saber o futuro causa sempre uma certa ansiedade. Mas é perfeitamente controlada, até porque tenho contrato com o FC Porto por mais um ano e só posso estar tranquilo.
«Esta época não fui brilhante»<br>
Record – Há um ano esteve para sair do FC Porto e ficou a ideia que não o deixaram sair. Isso influenciou o seu rendimento?
Deco – Naquela altura, quando disse que queria sair, senti que tudo quanto fizesse no FC Porto não seria tão bom como até então. Depois conversei com o presidente e as coisas ficaram esclarecidas. No início, sinceramente, aquilo mexeu um pouco comigo. Depois tive um período bom, mas seguiu-se outro período negativo. Tive problemas pessoais que mexeram muito comigo. No início, foram mais ou menos superados, mas houve uma fase em que acabaram por influenciar o meu rendimento. Por tudo o que passei, foi uma época positiva.
Record – Mas tem consciência de não ter sido a sua melhor época!?
Deco – Tenho. Não fui tão brilhante, tão exuberante como é habitual, mas fiz uma época regular. Não podemos ser sempre brilhantes. O que consegui no FC Porto foi essa regularidade e, assumo, tive alguns momentos não tão bons.
Deco: «Portugal deu-me tudo» <br>
Foi o "caso" que marcou o início da "era" Scolari. Mas, garante, está "morto e enterrado". A Selecção é um desejo, tal como sair do FC Porto
Miguel Barreira
Deco quer outros desafios
RECORD – Pouco mais de um ano depois da sua estreia pela Selecção Nacional, como se sente? Está devidamente integrado no grupo?
DECO – Desde o primeiro momento, o tratamento que recebi de todos, dos meus colegas, por parte de todos os elementos da Federação, foi excelente. Nunca tive nada que reclamar ou algo que possa dizer que correu mal. Foi fantástico desde o primeiro momento.
Record – Mas a sua entrada ficou marcada por alguma polémica, pelo facto de ser naturalizado. Houve jogadores, como o Figo e o Rui Costa, que se posicionaram, não contra si mas contra o princípio? Essa situação está ultrapassada? Conversaram sobre o assunto?
Deco – Primeiro, acho que cada um tem a sua opinião e todas são respeitáveis. Segundo, sinceramente, acho que as naturalizações, feitas apenas com o intuito de jogar por uma selecção, não sou nem nunca fui a favor. E, por isso, quero deixar bem claro que comigo não foi essa a ideia, nunca seria. Como sabe, já estava em Portugal há seis anos e, nessa situação, qualquer brasileiro tem direito a pedir a naturalização. Isso era uma coisa que aconteceria comigo, jogando ou não pela Selecção, como sucedeu com o Jardel.
Record – Então a sua naturalização nada teve a ver com a Selecção?
Deco – Não. O que me levou a jogar pela Selecção foram outras razões que não têm nada a ver com a naturalização, uma coisa que era boa para mim, não apenas a nível profissional mas a todos os níveis, familiar, por exemplo, para o futuro dos meus filhos caso eles queiram estudar noutro país da Europa. A naturalização era uma coisa a que eu tinha direito e que iria fazer de qualquer maneira, independentemente da Selecção.
Record – Mas apressou a sua naturalização? Foi a FPF que tratou do processo ou o FC Porto?
Deco – Talvez? Não sei quem começou a tratar do processo, nem sei quem apressou. Algumas pessoas da Federação falaram comigo sobre a hipótese de representar a Selecção. Aliás, já tinham falado, por alto, uns dois anos antes e eu na altura disse não, precisamente por não ter anos suficientes de vida em Portugal e não era naturalizado. Mas quando souberam que o processo tinha dado entrado, falaram novamente comigo e ainda fiquei na dúvida.
Record – Porquê? Ainda tinha esperanças de jogar pelo Brasil?
Deco – Não, nada disso! O processo de naturalização já estava a correr. Mas confesso que me é difícil explicar aos outros o que sinto por Portugal. O Brasil foi o país onde nasci, onde tenho as minhas raízes, a minha família chegada. Mas Portugal deu-me tudo, na minha carreira. Hoje posso dizer quem eu sou, nomear as coisas que consegui, por ter vindo para este país. Por isso, sinceramente, se algum dia tiver de sair de Portugal vai ser muito difícil para mim, principalmente agora que já me adaptei totalmente ao Porto. A minha vida pessoal foi feita aqui, os meus filhos nasceram aqui. Tenho uma ligação muito forte com Portugal. Por isso, quando as pessoas, mesmo na rua, me incentivaram a jogar pela Selecção, pensei, porque não?! Jogar pela Selecção foi mesmo uma opção, enquanto a naturalização era uma coisa que tinha mesmo de fazer independentemente do futebol.
Record – E optou por jogar por Portugal porquê? Pouco tempo antes ainda dizia sonhar com a selecção do Brasil??
Deco – Não escondo ter sido um objectivo, mas quando decidi naturalizar-me deixei de lado esse sonho, antes mesmo de pensar na Selecção portuguesa.
Record – Foi a vinda de Scolari que o fez ultrapassar as resistências que ainda tinha em jogar por Portugal?
Deco – Não. Como disse, já tinha sido contactado antes. Meses antes de Luiz Felipe Scolari vir para Portugal, o Agostinho Oliveira também me falou da hipótese, perguntou se não gostaria e foi aí que comecei a pensar seriamente no assunto.
Record – Por outro lado, a vinda de Scolari poderia até ter sido nefasta para si, pois ele nunca o convocou para a selecção brasileira!? Temeu isso?
Deco – Nem pensei no assunto na altura. Mas analisando as coisas é fácil entender que ele não me tenha convocado para jogar pelo Brasil, pois quando ele entrou para o comando técnico do "escrete" a situação estava complicada, a equipa tinha uma série de maus resultados e arriscava falhar o Mundial. Ele não podia "inventar", levar muitas caras novas, principalmente pouco conhecidas dos adeptos brasileiros, como era o meu caso. Já havia cobranças demasiadas para ele arriscar em jogadores sem traquejo na selecção. Eu entendi perfeitamente a sua opção de não me convocar o que, contrariamente ao que alguns disseram, não teve a ver com o facto de ter "excesso" de qualidade, um leque mais vasto onde escolher, mas porque era necessário gerir com urgência e garantia de sucesso uma série de conflitos internos.
Record – Para lá da Selecção, consta que vai sair do FC Porto. É verdade?
Deco – Não sei. Sinceramente. Sei que há interesse de alguns clubes, mas por enquanto não há nada de concreto.
Record – Para onde gostaria de ir? Jogar em que campeonato, em que tipo de futebol? Inglês? Alemão?
Deco – Não é o futebol em si. Eu não desejo sair por sair, só para mudar. Quero outros desafios. Nunca trocaria o FC Porto pelo Atlético de Madrid? Por exemplo, o Ronaldinho fez o que fez no Barcelona, que não ganhou nada, e para o ano vai estar na lista dos melhores do Mundo. Claro que o Ronaldinho é um grande jogador, isso é indiscutível, mas ele vai estar nessa lista porque é do Barcelona. Se ele estivesse no Benfica, que ficou em segundo lugar no campeonato português, estava "morto", ninguém falava dele.
Record – Os clubes portugueses não têm "peso" internacional, é isso?
Deco – Sem dúvida que conta muito nestas coisas o "peso" do clube onde se joga. Não adianta fugir a isso. E sinto que para atingir todas as minhas ambições infelizmente não o conseguirei ficando no FC Porto. A não ser que ficasse mais quatro anos a ganhar a Liga dos Campeões? E mesmo assim, não sei.
Record – Não gostava de experimentar outro tipo de futebol? Seria um novo desafio?!
Deco – Claro que gostaria. Mas não gosto dos desafios só por serem desafios. Tenho outros desejos? No fundo, nem é isso que me motiva, jogar num outro campeonato. Porque se fosse isso já tinha saído do FC Porto. Há três anos tinha ido para o Corunha, porque houve vontade deles e o FC Porto não se importava nada, até porque na época tinha uma cláusula de rescisão. Como tive do Atlético de Madrid. Mas não eram clubes que me fascinassem.
Record – Então que motivação é essa que quer mais?
Deco – Quero um clube que me dê condições para poder ser o melhor do Mundo! Esse é o meu maior desafio, a grande motivação da minha carreira. Já conquistei vários títulos nacionais, a Taça UEFA e a Liga dos Campeões. Quem sabe – e é outro dos meus desejos – conseguirei entrar na história com a Selecção Nacional e ser campeão europeu. Colectivamente, confesso, pouco mais posso desejar, mas individualmente gostava de me afirmar.
Record – Ser o melhor jogador do Mundo? Porquê? O Deco tem valor reconhecido?
Deco – Sim, a crítica faz-me rasgados elogios. Mas não tenho aquele estatuto que o Figo tem.
Record – Então o desejo de sair do FC Porto é forte?
Deco – O desejo existe. No entanto, não estou preocupado com isso. Quem trata desses meus assuntos é o Jorge Mendes porque eu só quero pensar na Selecção.
Record – Preocupado, acredito que não esteja. Mas não está ansioso?
Deco – Ah, isso mentiria se dissesse que não! Não saber o futuro causa sempre uma certa ansiedade. Mas é perfeitamente controlada, até porque tenho contrato com o FC Porto por mais um ano e só posso estar tranquilo.
«Esta época não fui brilhante»<br>
Record – Há um ano esteve para sair do FC Porto e ficou a ideia que não o deixaram sair. Isso influenciou o seu rendimento?
Deco – Naquela altura, quando disse que queria sair, senti que tudo quanto fizesse no FC Porto não seria tão bom como até então. Depois conversei com o presidente e as coisas ficaram esclarecidas. No início, sinceramente, aquilo mexeu um pouco comigo. Depois tive um período bom, mas seguiu-se outro período negativo. Tive problemas pessoais que mexeram muito comigo. No início, foram mais ou menos superados, mas houve uma fase em que acabaram por influenciar o meu rendimento. Por tudo o que passei, foi uma época positiva.
Record – Mas tem consciência de não ter sido a sua melhor época!?
Deco – Tenho. Não fui tão brilhante, tão exuberante como é habitual, mas fiz uma época regular. Não podemos ser sempre brilhantes. O que consegui no FC Porto foi essa regularidade e, assumo, tive alguns momentos não tão bons.